Ando frequentando sonhos.

É o que me contam amigas e amigos.

Em vigília, não tenho encontrado quase ninguém. Vida social praticamente nula.

Mas de madrugada, contam-me, tenho dado minhas voltinhas por aí.

Uma amiga, professora e psicanalista, certa manhã me mandou uma mensagem dizendo que tinha sonhado muito comigo. Naturalmente, eu quis saber mais. Perguntei em que situação. Ela respondeu que nunca lembrava o que havia sonhado, mas que a sensação da minha presença tinha sido muito forte e que tinha acordado ainda a sentindo por ali.

A segunda amiga, psicanalista, noutra manhã contou ter sonhado que jantava aqui em casa com duas amigas dela, também psicanalistas. Quando sugeri que o meu caso deveria ser grave para precisar de três psicanalistas. Ela retrucou dizendo que, como eu já a havia interpretado mais de uma vez, o terceiro psicanalista não seria ela. Eu disse então que discutiria o seu caso com as minhas colegas, que não era fácil, e pedi mais detalhes. Ela confirmou não ser mesmo fácil e disse que era apenas aquela a situação: eu oferecia um jantar e servia um ponche. Nós quatro sentados à mesa na minha casa. Ao acordar ela se perguntara o que era ponche e pensara em sangria. Disse que o ponche estava em uma super jarra, grande como uma bacia – e acrescentou: bacia de sangue? Contou ainda que as amigas estavam magras e ela as perguntava que dieta tinham feito. Encerrou dizendo que levaria aquele relato para a sua próxima sessão de análise.

O terceiro amigo, economista e escritor, contou hoje cedo que sonhou comigo numa mesa onde estávamos com um casal de amigos em comum. Não se lembrava do que acontecia, apenas de que o que eu falava parecia com o que eu falaria mesmo. Mas que o mais interessante era que eu estava de cartola. Respondi que ando frequentando sonhos; agora com uma cartola cheia de caraminholas.

Devo levar este relato para a próxima sessão?

Ou apenas seguir frequentando sonhos alheios?