Piparada

Todos temos visto, lido e ouvindo lamentos, mais ou menos indignados, mais ou menos desiludidos sobre o que ocorre no país. Muitos reclamando que ninguém faz nada, que o brasileiro é passivo (se não algo pior), e questionando: até quando vamos aceitar calados?

Parece que todos temos medo do que estaria por vir. As alternativas são medonhas. Saindo Temer viria Maia? Quem em sã consciência (fora seus familiares e partidários) pode querer isso? Isso não é solução. Mesmo provando o impedimento também de Maia, a linha sucessória não encontraria aspirante sem envolvimento com a máquina de corrupção estabelecida entre os três poderes da nação.

Então qual seria a saída? Diretas já? Se fosse apenas para a presidência, manter-se-ia o mesmo estado de compadrio partidário e da política de interesses estabelecidos desde sempre no país e já denunciados, por exemplo, por Lima Barreto e Rui Barbosa há mais de cem anos.

Eleições gerais para toda a esfera federal (presidência, senado e câmara)?

Se assim fosse, restariam as questões: quando; como seriam regidas as campanhas (financiamento, mídias); e, principalmente, quais as condições de elegibilidade dos candidatos?

A primeira depende das duas outras, ou do estabelecimento de regras eleitorais específicas para um múltiplo pleito de âmbito nacional. O que implica na questão de quem seria o responsável pelo estabelecimento dessas regras.

Se voltarmos aos três poderes atualmente constituídos, caímos de novo na mesma situação. Teria que haver algum método de formação de uma comissão idônea, com representação de toda a sociedade, para a elaboração de um código eleitoral extraordinário.

Como seria isso possível, ou juridicamente viável?

E, considerando-se que o seja, quem topa reivindicar isso? Criar, participar e promover eventos mobilizadores de cidadania. Como, por exemplo, uma piparada nacional. Um dia marcado, em qualquer lugar, bem como em pontos de encontro organizados em áreas abertas (parques, praias, morros, praças) todos levantando uma pipa no ar. Um fio de esperança. Planos abertos, soltos ao vento, mas ancorados na terra e habilmente manejados pelos nossos próprios desejos. (Sem cerol.)